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Poseidon

  • PJ Vulter
  • 5 de set. de 2017
  • 1 min de leitura

A chuva caía, imparável, gota atrás de gota, num corrupio incessante, como se de água o céu fosse e nós peixes: imersos num imenso oceano que parecia adensar-se, pesar sobre tudo com a força de mil mares; isolados no meio de uma cordilheira espumosa de ondas gigantescas que ameaçavam desabar; à mercê do cajado de um qualquer Moisés, que poderia – a qualquer instante – afogar, sem misericórdia alguma, todos os egípcios que havia para afogar.


Só que não havia egípcios por ali, nem peixes; só água e mais água. A vista perdia-se no mar em dias de sol – que eram poucos – e, em dias de chuva, o mar perdia-se da vista; a bruma húmida e esborratada invadia-nos os olhos como uma doença peçonhenta, cativava-nos a mente com imagens de coisas que não existiam, nem estavam lá; muitos perdiamo-nos – horas a fio – a observar algo que só a nossa mente concebia, algo que só o nosso cérebro – cansado de tanto observar – conseguia adivinhar os padrões. Ali, os mil mares cercavam-nos e o seu peso era sufocante; tão sufocante, que mesmo estando cansados de tanta água, tão fartos da chuva que borrava a paisagem, a preferíamos, porque nesses dias não víamos o nosso carrasco e executor: o mar.

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