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The Shift


The Shift, PJ Vulter

Há dias pus-me a pensar num assunto…


É uma coisa que faço com regularidade: pensar. Em vez de ficar agarrado ao smartphone e afins, a ver vídeos de gatinhos ou a ler os gritos egóicos que escrevem nas redes sociais; prefiro pensar silenciosamente…


Dizia, eu, que há dias pus-me a pensar num assunto... Ocorreu-me que o mundo – quer-me parecer – não aceita que nós mudemos.


Para o mundo, depois de nos definirmos não poderemos mudar…


Começamos esse processo de definição em tenra idade. Dizem que é como se fossemos colocados num torno e nos fossem moldando; família, escola, colegas, amigos, conhecidos – e não necessariamente por esta ordem…


E é assim que nos vamos definindo numa pessoa; uma pessoa com determinados objectivos, desejos, sonhos, projectos de vida…


Este processo até parece muito bem… Estou certo de que ninguém tem nada a dizer dele, porque sempre foi assim e – acha-se – que sempre assim será; e até tem nomes científicos: educação, formação, socialização, enculturação, etc…


O problema deste processo é que ele não nos permite mudar…


Imagine que entra numa estrada; escolheu-a; não foi obrigado e ir por ela, foi uma escolha sua baseada naquilo que sabia… Mas a meio do caminho vislumbra uma outra; muito mais apelativa, muito mais bonita e que até ressoa mais consigo… O que faria? Tentaria mudar?


Eu acho que maior parte de nós tentaria fazê-lo…


Contudo, o problema é que não vê caminhos para lá; nem atalhos. Aquela estrada que deseja começava lá atrás, ao lado daquela em que entrou e – em princípio -, se quiser para lá ir, tem de voltar para trás, fazer o caminho de regresso e escolher essa outra estrada…


E você até está disposto a isso… Mas quando olha para o caminho que tem para fazer várias dúvidas surgem:


- E se quando entrar na outra estrada, descobrir outra que lhe agrada mais? Voltará a ser capaz de fazer isso?!


- E, quantas mais vezes, isso lhe sucederá?!


- E não quererá isso dizer que está errado e aquela - aquela onde está - é a melhor estrada para si? Afinal a vida tem uma duração limitada e não pode desperdiçá-la perseguindo falsas promessas…


A verdade é que tudo seria mais fácil se houvesse o raio de uma viela, um atalho, um mísero caminho de cabras que o levasse até à outra estrada. Mas não vê nada semelhante!


E – acredite - neste mundo tudo o faz - e fará - crer que não há… Talvez não haja; não sei… Eu cá ainda não a encontrei!


A questão é que na nossa moldagem, lapidação – o que lhe quiserem chamar – nós somos estimulados a agir como na metáfora da estrada; é evidente que aquela pessoa se manteve no caminho que seguia e não foi para o que desejava… E até deixou de acreditar que talvez – quiçá – pudesse encontrar essa tal viela.


No entanto, se somos moldados como é que podemos tornar-nos diferentes daquilo em que nos moldaram?


Se é assim, se existe uma moldagem, porque motivo, alguns de nós, a dada altura de vida, questionamos as nossas escolhas e ambicionamos coisas que não estão nesse nosso caminho; e que estão nessa tal estrada que vemos ao longe, desejamos, e não sabemos como lá chegar?


Dou por mim a pensar que tal deveria ser impossível…


Mas isto acontece!


Vejam o meu caso…


Eu sou um escritor. Tudo o que quero é contar histórias, criar mundos e personagens, narrar coisas do arco-da-velha, ou do dia-a-dia, sempre com o intuído de revelar as verdades ao mundo; e, para isso, preciso de levá-las ao mundo, fazê-las viver na mente dos outros como viveram na minha… Mas ser isso, em plenitude, implicaria necessariamente que eu teria de estar naquela outra estrada; não nesta que estou. É… Como hei de dizer?


É, por vezes, desgastante e agonizante… Falta-me o ar, sinto-me preso, desesperado…


Eu estou há já vários anos em busca dessa tal viela que – miraculosamente – me poderá levar até à estrada que quero, porque eu acredito que ela existe… E nos meus piores momentos, quando preciso de me motivar, imagino-a como um caminho mágico, aberto por certas palavras de poder, ou então pela correta vivência de certos sentimentos… Abre-se sempre como um rasgão no tecido da realidade e é sempre uma vereda, em tons de fim de tarde, com o sol no horizonte e a pôr-se nessa mesma estrada que eu desejo.


Não sei porque a imagino assim, mas é assim que eu a imagino...


O que eu sei, é que não sei muitas coisas…


Mas de uma coisa eu estou certo: nós mudamos.


Nós mudamos; com a experiência, com as coisas más e as coisas boas, com o que os amigos nos fazem – ou não -, com o que a família nos dá ou nos tira, enfim… Como se diz: nós mudamos com o tempo.


Talvez isso seja assim, porque, afinal, talvez não sejamos colocados num torno, mas sim num buraco de formato desconhecido; e a moldagem ocorra, não porque queiramos que assim seja, mas porque escolhemos que seja assim, porque só assim conseguimos navegar por esse buraco em direção à luz. Talvez as nossas escolhas sejam feitas tão-somente na perspectiva da sobrevivência e da busca do reconhecimento e que, no final, acabemos por nos tornar, não naquilo que queremos - ou naquilo que nos éramos suposto tornar-, mas naquilo que nos deixaram tornar ou naquilo que conseguimos…


Isso explicava porque é que a dada altura da vida, alguns de nós, questionamos as nossas escolhas e ambicionamos coisas que não estão no nosso caminho… Seria como uma espécie de despertar – tardio – da compreensão da coisa…


E ninguém fica intocado ou é intocável. Todos nós – sem excepção – nos tornamos pessoas diferentes ao longo da vida; uns mais, outros menos… E as razões para isso, para esses diferentes graus de alteração, escapam-me…


Há ainda os outros; aqueles que se recusam a aceitar que mudaram… Eu sei o que isso é!


Se for esse o seu caso, aconselho-o vivamente a mudar; se não o fizer, acabará por se tornar uma pessoa amarga, ver-se-á rodeado por inimigos, pessoas que lhe quererão mal e – em suma – o mundo será um lugar hostil para si.


Mas deixe-me que lhe diga que está errado. O mundo não é hostil, nem você está rodeado de gente que lhe quer mal... Em consciência, ninguém - nem você, nem o mundo - está agredir… O que se passa é que você sentir-se-á agredido pelo mundo, porque não se sente compreendido; e o mundo tenderá a rejeitá-lo por que não consegue compreendê-lo. É um ciclo vicioso ao qual apenas você poderá pôr termo...


Como?!


Basta aceitar aquilo que lhe digo: nós mudamos.


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