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O que se diz nas redes sociais

  • PJ Vulter
  • 8 de set. de 2017
  • 2 min de leitura

As pessoas gostam de utilizar as redes sociais para desabafar. É verdade que sim e não contesto. Contudo, há que ter alguma responsabilidade nas coisas que se dizem e, particularmente, ter o bom senso de não mentir - ainda que inconscientemente.


No outro dia li um texto que alguém postou numa rede social. E fiquei indignado.


Nesse texto, uma mãe relatava a desventura que tivera nessa madrugada, quando se vira forçada a levar o filho, acometido de dores súbitas, ao hospital e como tudo correra bem; tão bem que ela resolveu investir algum do seu tempo na pérola que resumo, sucintamente, assim: «(…) agradeço ao médico que foi extraordinário e ao nosso SNS que, também ele, é extraordinário».


Não sei se a senhora estaria com privação de sono, ou a falar emotivamente, e, como tal, fora de si; ou até mesmo se, devido às suas cores partidárias – as quais desconheço – se sentiu obrigada, quase que religiosamente, a englobar o estado português nos seus agradecimentos. Seja como for, que o médico tenha sido extraordinário, não questiono – já conheci alguns; mas, quanto ao que diz sobre o SNS, já não posso concordar.


O SNS que aqui é mencionado é o mesmo que deixou um jovem morrer, no Hospital de São José, com um aneurisma na cabeça, porque os neuro-cirurgiões estavam de fim-de-semana; o mesmo que, ainda recentemente - em 23/08/2017 se soube -, deixou uma jovem de 18 anos morrer, sem se saber porquê; o mesmo que, volta não volta, deixa morrer pessoas nas salas de espera dos hospitais, ou em casa, porque para lá as manda – por maus diagnósticos – ou, ainda, nas listas de espera para as operações; o mesmo que permite que infeções grassem pelas instalações e agravem estados de saúde periclitantes.


Desengana-se a autora deste elogio, se pensa que o filho ficou bem e rapidamente porque o SNS funcionou. Não; o que tornou a sua experiência tão satisfatória foi a sorte de ter dado com um médico verdadeiramente extraordinário. Outros não têm tanta sorte…


Gostaria por isso de apelar ao bom senso.


Um médico extraordinário é um médico extraordinário, mas, da mesma forma que um dia de Sol não faz o verão, também esse médico não faz o SNS extraordinário. Arrisco até a dizer que se o nosso SNS fosse mesmo extraordinário, esta senhora nada diria deste médico, porque ele faria o que qualquer outro médico faria e, por isso, não mereceria destaque; se o mereceu, é porque está acima da média e é a média que faz o nosso SNS.


Assim, talvez esta senhora possa repensar o que disse e constatar que aquilo que viu aquele médico fazer, apenas se destacou por não ser o habitual ou o expectável e, como tal, não elogiar falsamente o nosso péssimo SNS.


Mas não resisto e, conhecendo os nossos hospitais como conheço, deixo aqui duas perguntas:


Terá o médico sido tão extraordinário assim?


Ou terá ele, simplesmente, feito o que qualquer médico deveria fazer: interessar-se pelo doente e curá-lo?

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