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Todos acham que podem ser uma Pop Star

  • PJ Vulter
  • 22 de set. de 2017
  • 3 min de leitura

Aqui há uns meses fui assistir a uma audição; aqueles espetáculos que se fazem no final do ano letivo para mostrar aos pais dos petizes a evolução dos seus rebentos nas artes da música e do canto.


Tive momentos agradáveis e outros menos agradáveis.


E concluí que a sociedade não está preparada para educar; nem a sociedade, nem os professores e – pelos vistos – nem os pais…


Os pais deviam ter coragem de dizer aos filhos a verdade; mesmo que doesse muito!


Mas não dizem…


A consequência disso – não o sabem, ou preferem ignorar - é a que os pequenos crescem alimentando um sonho impossível e transformam-se, anos mais tarde, em adultos frustrados, condenados a fazer coisas de que não gostam; trabalhando por obrigação.


Se uma criança não sabe cantar, se não tem voz, porque raio se insiste, e se permite, que aquela criança alimente o sonho de ser cantor?


E porque razão uma sala inteira aplaude uma atuação excruciante?!


Julgarão, por acaso, estar a fazer algum bem àquela pequena criatura que esganiçadamente desafinou em todos os acordes de todas as canções que cantou?


E a professora?


Porque não diz ela aos pais que deverão demover a criança daquele sonho impossível?


A razão por detrás disto é tão simples quanto pérfida e daria um ensaio sociológico de múltiplos temas. No entanto, irei tentar resumi-la numa única palavra: egoísmo.


Egoísmo dos pais que, tal como preferem que as crianças passem o jantar agarrados aos tablets e smartphones para não os aborrecerem, para não se incomodarem a educar, porque educar é difícil, provoca lágrimas, gritos e tristeza – e todos os pais querem os seus meninos felizes, não vão os meninos deixar de gostar deles –, também preferem que as crianças vivam iludidas por um sonho impossível; afinal, se lhes disserem que não têm jeito para aquilo ainda levam algum pontapé nas canelas e ouvem «Não gosto de ti!» - um drama.


Egoísmo da professora, porque os pais pagam-lhe para ela ensinar a criança. Como pode ela dizer que a criança não tem jeito?


Que irão eles pensar dela?


E – pior – se eles resolvem tirar a criança dali, alegando que ela é má instrutora, e vão pagar a outra?


Não, eles pagam-lhe e ela vai manter ali a criança; naquele limbo.


E quanto aos outros?


Oh! Se, de repente, os cinco, ou seis, membros da família se levantam em alvoroço, soltando vivas, e batendo palmas, quem tem coragem de não os imitar?


Não podem. Que iriam pensar os outros que aplaudiram?


E se lhe pedissem explicações?


Que diriam?!


Está tudo errado e muito errado!


Temos de ser responsáveis e entender, de uma vez, que somos nós – adultos – que devemos educar as crianças e que educar não é só dar-lhes cultura e conhecimentos; é também, e principalmente, ensinar-lhes a reconhecer os seus limites. E, no que respeita ao talento para as artes – vamos manter-nos por aqui – não há democraticidade; isso foi uma treta que se inventou há alguns anos graças a uma generalização excessiva do direito à igualdade. O talento, ou se tem, ou não se tem!


Porque é que ninguém diz que qualquer um pode ser o Ronaldo, ou o Messi, mas todos acham que podem ser uma Pop Star?


Porque o talento que advém da capacidade física é inquestionável por ser visível. Já todos os outros advém de coisas menos palpáveis e, como tal, todos acham que o têm; porque todos querem ser especiais. Mas isto era tema para outro ensaio sociológico.


Termino, relatando algo impressionante a que assisti nesse mesmo espetáculo. Já depois de terminado, enquanto a criatura esganiçada que cantara um número absurdo de canções – considerando o seu talento inato – se afastava no anonimato, uma outra menina – essa sim, com uma voz impressionante – que cantara inexplicavelmente, apenas, três canções ( e as tocara, também! ), recebia os parabéns de várias pessoas que, mesmo sem a conhecerem, não hesitaram em vir cumprimentá-la. Confesso que fiquei com uma maior esperança da humanidade…


Em suma: o talento tem-se.

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