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So, you want to be a Writer?

  • PJ Vulter
  • 13 de out. de 2017
  • 6 min de leitura


Já escrevo há muitos anos e durante este tempo tenho lido muita coisa sobre a escrita. E uma coisa é certa: todos têm as suas opiniões e todos acham que podem resumir o ato da escrita a um conjunte de itens; como se, de facto, acreditassem que qualquer pessoa que siga aqueles passos poderá escrever um livro de sucesso. No entanto, qualquer pessoa que já o tenha tentado - seguir aqueles passos - terá já compreendido que não é assim tão simples.


Qualquer pessoa que tenha começado a escrever um livro, compreendeu - logo à partida -, que falta qualquer peça naqueles tratados sobre a escrita; porque os processos não são tão fluídos como o explicado e porque há coisas com as quais têm que lidar que não compreendem inteiramente e às quais não encontram referências nesses mesmos tratados.


Qualquer pessoa que tenha começado a escrever um livro e terminado, além daquilo acima referido, já percebeu também que esses livros alimentam uma qualquer patranha, porque o livro foi terminado, pelas regras que o tratado enuncia, mas ninguém o publica; e, mesmo aqueles que o veem publicado, cedo constatam que o sucesso certo não aparece.


A verdade é que a escrita não pode ser resumida a uma fórmula. Existem técnicas que nos podem ajudar a escrever melhor, mas que não nos tornarão necessariamente escritores; tal como podemos aprender todas as técnicas vocais e não conseguirmos ser cantores, ou forma-nos sobre as técnicas magistrais da cestaria e não conseguirmos criar cestos.


A existência desses livros sobre a escrita foi a ideia de alguns iluminados que constataram que havia um mercado para eles: milhares e milhares de pessoas que almejavam serem escritores. Foi uma ideia que pretendia, não, ajudar esses sonhadores, mas sim ganhar dinheiro através deles. E é claro que alimentaram o mito, que já existia, de que qualquer um pode ser escritor.


A verdade dói. Mas a verdade cura e conduz ao conhecimento. E a verdade é simples: escrever livros não é para todos; tal como não o é jogar futebol profissional.


E muitos já perceberam isso, da pior maneira, porque continuaram a achar que poderiam ser escritores. Podemos criticá-los?


Não. Como poderíamos, se há manuais sobre isso?


A Sociedade em geral, e os pais em particular, no caso das crianças, têm a obrigação de educar as pessoas; explicar-lhes que não podem ser tudo aquilo que desejam. Porque é o desejo que conduz estas pessoas àquelas frustrantes loucuras e permite o surgimento destes vendedores da banha da cobra. O que os move é o desejo de terem aquilo que os cantores famosos têm, de terem o que os «Ronaldos» e os «Messis» da vida têm, de terem o que os escritores de Best Sellers têm; não só materialmente - ainda que acredite que isso seja 80% -, mas também emocional e socialmente. Eles apontam baterias para ali, porque querem aquilo que esses ídolos têm; mas há uma coisa que ninguém se lembra: esses que eles idolatram nasceram com um talento especial, algo que os distinguiu dos outros, algo que lhes permitiu fazer o caminho até onde chegaram.


E há outra coisa que ninguém se lembra, também: todos nós nascemos com um talento e o nosso caminho, para chegar a onde os nossos ídolos chegaram, passa por explorar esse nosso talento e jamais por explorar o talento do nosso ídolo, pois este pode nem ser o nosso. Sobre isto falaremos melhor noutro post.


Voltando ao nosso tema, os livros sobre escrita...


Concordo que, em termos de técnicas, alguns ajudam, mas a maioria passa o tempo a explorar velhas máximas, sem originalidade nenhuma e, mais grave, sem um alerta que explique aos incautos que escrever não é para todos; muitos há que até encorajam. E eu não acho isto inteiramente mau - há que experimentar para saber -, contudo, devia depois haver uma preocupação para ajudar aqueles a quem as coisas não corressem bem; explicar-lhes que deveriam parar e procurar outra coisa...


No entanto, estes vendedores de banha da cobra, como qualquer vendedor da banha cobra, não pode ter essa preocupação, pois isso seria mandar abaixo o próprio alicerce daquilo que o enriquece; era dizer que é possível que nem todos possam ser escritores, mesmo que o queiram. Não. Isso jamais pode ser dito, porque, para além de tornar a sua mensagem incoerente e afastar compradores, as pessoas diriam que eles eram loucos.


As pessoas perguntariam: como é que cada um de nós não pode ser tudo o que quiser? Que loucura é essa?


As pessoas protestariam dizendo que todos nós podemos ser o que quisermos desde que ponhamos nisso a nossa energia. E eu pergunto: então, porque não são?


Quantos de nós andamos anos e anos atrás de um sonho e nunca chegamos lá?


Por falta de trabalho?!


Há por aí alguns artistas - e não estou a ser irónico - que afirmam que são o que são à custa de muito trabalho e renegam a questão do talento. Como se ao Ronaldo, ou ao Messi, bastasse ter treinado muito e afincadamente para serem quem são. Não. Isto é uma MENTIRA. É verdade que foi o trabalho que os levou onde levou, mas se não tivessem aquela centelha, o talento inicial, não teriam chegado a lado algum.


O Mundo está cheio de pessoas que trabalham afincadamente, treinam, alguns mais que os seus ídolos; mas que nunca chegam lá. Nunca chegam lá, porque não é aquele o seu caminho, não é aquele o seu talento. Se, ao invés de terem mirado o resultado final dos seus ídolos, tivessem percebido o caminho deles, e o seu próprio caminho, talvez tivessem o mesmo resultado final, ainda de que outra maneira. Mas, como disse, esse é assunto para outro post.


Hoje em dia, as pessoas têm pressa de chegar ao destino, têm tanta pressa que se esquecem, e ignoram, que para de ir de A a B têm de percorrer um caminho; e, mais grave, acham que há um atalho que é fazer o mesmo que aqueles que eles idolatram fizeram. E não estão inteiramente errados, só que a sua visão está equivocada: a chave está no caminho e não no destino.


Com o fenómeno do querer ser escritor não é diferente. E é por isso que há tantos livros sobre o processo de escrita que são uma mão-cheia de ilusões destinadas a alimentar ainda mais ilusões, porque o que esses vendedores de banha da cobra querem é ganhar a vida; e ganham, enganando inocentes, muitos dos quais criados por eles.


A culpa é deles?


Não inteiramente. A Sociedade, através dos processos educacionais, é a principal responsável, porque de repente tornou-se pernicioso ensinar que há talento e que o mesmo é importante; há já uns anos que é mal visto dizer-se a alguém que deverá procurar outra coisa para fazer. Não sei se isto acontece por cobardia ou se é um ato irrefletido de projeção das próprias frustrações no outro; seja o que for, isto é ser irresponsável e não traz bem a ninguém a não ser ao irresponsável. Mas isto fica outra vez...


Contudo, na minha opinião, se a sociedade falha nos processos de educação, deverão ser os indivíduos a cumprir esse papel, pois se todos o fizermos, a sociedade, no seu todo, acabará por educar. E é por isso que eu critico esses vendedores de banha da cobra.


No entanto, nem tudo o que há é mau.


Para aqueles que escrevem, que sabem que é essa a sua missão na vida, que se perdem nas vidas dos personagens e que choram e riem com eles, que sentem os personagens como gente próxima - amigos, familiares - que querem contar histórias e arrebanhar as emoções das gentes com elas, deixo aqui quatro sugestões.


Uma, é um poema de Charles Bukowski:


«So, you want to be a writer?" - aqui - é inspirador e demonstrador da tenacidade, vontade, ferocidade e espírito que deve animar um verdadeiro escritor.


Depois, deixo os títulos de três livros que valem a pena, porque vão para além das técnicas e generalidades:


«Como escrever um romance», de Nigel Watts, que tem alguns anos e cujas indicações sobre as abordagens às editoras estão desatualizadas, mas que de resto é muito atual;


«Escrever», de Stephen King, este autor de Best Sellers, oferece-nos uma visão humilde sobre o ser escritor; admite logo à partida que não existe uma fórmula e assume que aquilo que irá fazer é partilhar a sua experiência;


E, por fim, «Quem disser o contrário é porque tem razão», de Mário de Carvalho, que, logo na nota prévia, este distinto escritor português, deixa claro que não têm a presunção de ensinar ninguém a ser escritor;


Termino com esta provocação: como se poderá ousar pretender ensinar alguém a ser escritor, quando um escritor é alguém que se reinventa, muitas vezes, todos do dias?


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