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Coisas de um adepto desanimado...

  • PJ Vulter
  • 12 de jan. de 2018
  • 4 min de leitura

O Desporto em geral, e o Futebol em particular - pois é sobre este que vou falar - deveria ser um motivo de reencontro e

festa. O momento em que duas equipas se enfrentam, através das técnicas, capacidades e vontades dos seus jogadores, deveria ser o momento de celebrar o futebol e deixar a bola falar através dos chutos que recebe, dos ressaltos caprichosos, dos passes - impossíveis, por vezes; e, no final, ganharia quem tivesse melhor conversado com a bola. Depois a celebração continuaria, para quem quisesse, pois o Futebol deveria ser isto: um momento para amigos se juntarem em torno de algo que gostam.


No entanto, nada daquilo se passa. O Futebol é um momento de tensão. Hoje, ver um jogo de futebol, principalmente nas ligas principais, é o mesmo que assistir a um combate entre dois monstros constituídos, cada um, por 11 homens, que se digladiam em torno de uma bola e que não olham a meios para conseguir o seu controlo e dessa forma ganharem o jogo. Porque o que interessa é mesmo ganhar e não interessa como.


Eu até compreendo que o negócio do Futebol obrigue a esta atitude de competição; ganhar acima de tudo. São as vitórias que trazem patrocínios e são estes, por sua vez, que trazem o dinheiro necessário para gerir os clubes. Mas será necessário transformar o relvado num campo de batalha?


Haverá necessidade de encher os mídia de palavras beligerantes, hostis, e de acicatar as massas associativas e apoiantes umas contra as outras?


Se deixassem o Futebol jogar-se, as vitórias seriam sempre de quem melhor jogasse; ou de quem tivesse mais sorte. É esta a verdade desportiva de que todos falam, mas que - acho - poucos realmente querem saber; a verdade - começa a parecer-me - só será desportiva se for da mesma cor de quem a defende.


«E os árbitros?! Não se pode falar de sorte se for o árbitro a influenciar... e tal...»


As regras do futebol mandam tratar o árbitro como um elemento de jogo sempre que a bola ressalta nele; por exemplo. Então deve ser visto como parte do jogo. É um ser humano como os jogadores, como os treinadores, como os presidentes dos clubes, como todos e cada um dos que assistem e gostam de futebol; e se todos nós cometemos erros, também eles os cometem. Se um jogador pode falhar um passe crucial, pode não acertar na baliza e pode ter um péssimo rendimento num jogo e ninguém diz logo que ele o fez de propósito, porque razão se faz isso com os árbitros?


E é curioso que é normalmente quem perde quem faz as acusações...


Toda a gente do Futebol deveria pensar no que anda a fazer, porque o que se passa é uma falta de respeito para com o próprio Futebol. Os treinadores e os presidentes, líderes reconhecidos pelas massas, deveriam ponderar nas palavras e naquilo que dizem, pois a maior parte das vezes são desabafos gritados como palavras de ordem; e os apoiantes escutam-nas e papagueiam-nas sem pensar muito nisso. E é isto que transforma o Futebol; é que isto que transmuta o espírito de festa, e celebração, nesta tensão palpável manifestada pelas acusações de corrupção, pelas palavras hostis, e acusações, de presidentes e lamentações de treinadores repetidas até à exaustão pelos apoiantes dos clubes. E isto ensombra esta festa, que deveria ser o Futebol, e torna-o em algo que nem consigo descrever, mas que ainda está no início; tenho medo que no futuro, se ninguém puser mão nisto, a batalha salte das quatro linhas e deixe de ser travada com uma bola.


Penso que está na hora de deixar o Futebol ser Futebol. Todos têm de ser grandinhos, comportar-se como adultos, e aceitar as vitórias e as derrotas como aquilo que elas são e não como obras maquiavélicas de bastidores de algum ente desconhecido que persegue quem perde em prol de quem vence. Nada disso se passa; a maior parte das vezes, quem perde, perde porque jogou pior ou teve azar. Já chega de incendiar as massas associativas e de apoiantes com palavras agressivas e beligerantes, de fazer os papéis de vitimas e de coitadinhos, de escamotearem os resultados maus com as ações invisíveis de um arqui-inimigo milenar e, principalmente, de fazerem pressão sobre os árbitros vindo a público falar, falar, falar, na esperança que de os árbitros cedam e os favoreçam... É estranho; uma vida inteira a contestarem a honra dos árbitros, mas tentam puxá-lo para o seu lado, inibindo a sua ação honesta pela medo instilado de se ser acusado de corrupção. É estranho, não é?


Pois... Mas o mais estranho é terem transformado o Futebol neste jogo de interesses e de poder; onde tudo o mais interessa menos o jogo jogado. O resultado de um jogo deveria discutir-se nas quatro linhas e não nos milhares de programas de televisão, repletos de treinadores de bancada que só querem ganhar o deles conquistando audiências de qualquer maneira...


Termino com uma sugestão: hoje, se quiserem ver um jogo de futebol - um verdadeiro, entenda-se - vão antes assistir a um jogo das distritais ou, então, mais simples ainda, fiquem à janela a ver os miúdos a jogar na rua.

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