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Wired

  • PJ Vulter
  • 26 de jan. de 2018
  • 5 min de leitura

Todos temos coisas de que não gostamos. Há coisas até que, depois de lhe dedicarmos algum tempo, não conseguimos sequer entender o efeito nefasto que têm no nosso moral e disposição; a não ser que o têm. E não adianta dedicarmos-lhes muito mais tempo, pensar e pensar sobre as coisas, os motivos, as causas e as justificações - eventuais - que dariam sentido àquela nossa labuta interior que nos faz sentir tristes, frustrados e amargurados com a vida. Na realidade, nem faz sentido continuarmos a matutar numa coisa que nos faz sentir tão mal; se uma coisa nos faz mal, porque é que continuamos a pensar nela?


Porque razão insistimos em perpetuar um estado mental que nos faz sofrer?


Talvez não saibam ou, pelo menos, tenham consciência disto, mas a nossa mente está arquitectada - ou como dizem os ingleses Wired, e acho esta expressão tão mais adequada - para encontrar respostas; independentemente de estarem certas ou não. O resultado inevitável deste facto é que, enquanto estivermos focados numa questão, nós iremos sempre encontrar respostas, justificações, causas, explicações e razões. E o problema está aí. Porque, na verdade, ainda que alguma das explicações possam estar perto das causas reais do nosso estado de espírito, a maior parte delas - e a maior parte das vezes - são conjuntos de factos, organizados pelo nosso cérebro como se de um compêndio se tratasse, que pretendem satisfazer a curiosidade da nossa mente e responder à pergunta pertinente: porque é que eu me estou a sentir assim?


Vistas assim as coisas, poderão olhar para o nosso cérebro com orgulho; que grande máquina. E assim é, de facto; o nosso cérebro é a suprema máquina. É, contudo, uma máquina que, apesar de estudada até à exaustão e tentada replicar nos processos computacionais, o ser humano ainda não conseguiu entender inteiramente e - acho que o posso dizer - está muito longe de o conseguir.


Em primeiro lugar gostaria de vos dizer que mente e cérebro são duas coisas distintas; apesar de serem confundidas e de, muitas vezes, serem considerados sinónimos. Dizer que o cérebro e a mente são a mesma coisa, é o mesmo que dizerem que o Amor sente-se no coração; e toda a gente sabe que o coração, em si, não sente nada - literalmente...


A mente é algo de abstrato, intangível - transcendente, se quiserem - que se encontra alojada, por definição apenas, no nosso cérebro. De uma forma mais simples, será o conjunto dos pensamentos, princípios e formas de ver o mundo, devidamente estruturado, e que o nosso cérebro processa como se fosse um computador; será o sistema operacional do nosso cérebro, por assim dizer.


E qual é a principal função do nosso cérebro?


Encontrar respostas.


O nosso cérebro foi criado para nos conduzir pelo mundo em busca de respostas, porque quando o Homem nasceu o mundo precisava de ser descoberto, o ser humano precisava de questionar tudo para conhecer tudo, para se defender, alimentar e evoluir. E evoluímos até ao ponto onde estamos hoje. E que ponto é esse?


É o ponto em que a informação está na ponta dos dedos, pelo teclado de um computador ou smartphone, e onde todas as perguntas, a maior parte delas, pelo menos, ou aquelas de índole mais prática - as que nos ajudam no nosso quotidiano - se encontram respondidas; e das mais diversas maneiras. Hoje há tutoriais para tudo. É só procurar...


É claro que ainda há muito para descobrir. No entanto, não são descobertas que um cidadão comum possa fazer no dia a dia. O que falta descobrir e inventar está nas mãos de pessoas altamente especializadas, treinadas e focadas; pessoas que levam uma vida de estudo e que precisam - e muito - deste cérebro de que vos falei, porque é ele que o manterá focados, centrados, na busca das respostas que precisam.


No entanto, o cérebro humano que é igual para todos - pelo menos no que respeita à sua função - é muito útil aos cientistas, mas para o comum dos mortais, às vezes, torna-se um problema.


É que esta força incontrolável que sentimos, por vezes, quando algo nos incomoda e que nos obriga, quase como uma tortura, a mergulhar dentro de nós próprios em busca de respostas, é a mesma força que move os grandes génios da humanidade; só que enquanto ao génios conduz para a Luz, a nós conduz-nos para a escuridão.


Os génios tem um caminho estruturado, o cérebro tem informação pertinente concreta, eles estudam e estão sempre a dar novos dados ao cérebro para que ele possa processar e achar as respostas que precisam. Já nós só temos uma coisa que nos incomoda, e que nem sabemos - por vezes - o que é, e que tentamos processar com a informação que já temos; ninguém se vai dar ao trabalho de estudar novas matérias para responder a uma inquietação. Então, se não temos em nós a resposta, pois não sabemos porque raio estamos assim, como poderemos esperar que o nosso cérebro, com a mesma informação que já temos - sem novos dados -, consiga dar alguma resposta cabal à mente?


Não pode. E é por isso que entrar nesse caminho só nos leva à escuridão.


«Mas eu preciso responder!», dirão. «Eu não percebo o que se passa. Não sei porque raio é que me sinto assim! Eu preciso entender...»


Não, meus amigos. Nós não precisamos de entender nada; isso é a mente a controlar-vos. É o sistema operacional do cérebro a funcionar.


Vou usar uma metáfora. Um computador, quando o ligamos, e o sistema operacional arranca, tem como único objetivo funcionar; outros virão depois, mediante as nossas ordens, mas no inicio será só funcionar. Se, por alguma razão, existir um defeito, seja no Hardware, seja no Software, e ele não conseguir pôr-se a funcionar, ele irá continuar a tentar pôr-se a funcionar; tenta, tenta, tenta, tenta, porque é essa a sua função. Continuará a tentar até que nós o desliguemos. E assim é com a mente e o cérebro; eles vão sempre tentar responder a tudo e, quando não conseguem, voltam a tentar, a tentar e a tentar...


Cabe-nos a nós, tomarmos consciência disto, e desligarmos o sistema operacional; sim, só o sistema, porque nós - infelizmente - não podemos fazer um Reset literal. Se não o quisermos fazer, temos de alimentar o cérebro com novos dados, e sustentados, para que ele processe nova a informação e - talvez - possa encontrar a resposta que faltava. Mas se não quisermos fazer isto, temos de desligar o sistema; não é difícil.


Da próxima vez que se sentirem assim, experimentem pensar noutra coisa qualquer, algo muito interessante, algo que vos excite e vos dê alegria; deixem-se levar pela onda de novas perguntas que isso vos coloca. Quando se derem conta, aquele estado de espírito que vos incomodava já nada é senão uma sombra e uma memória difusa.


Mas nunca se esqueçam, para a maioria de nós, o nosso cérebro é hoje como aqueles Smartphones caríssimos; fazem tudo, mas nós só queremos fazer chamadas e mandar sms. Por isso, ou lhe damos que fazer, levando vidas interessantes, saudáveis e projectos aliciantes que nos façam sentido, ou ele vai procurar responder às perguntas que se lhe levantam, mesmo que essas sejam apenas sobre a razão porque nós nos sentimos daquela maneira.


Sintam-se à vontade para partilhar.


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