Um Mundo que não tem que ser assim...
- PJ Vulter
- 16 de fev. de 2018
- 5 min de leitura

Tenho ouvido muita gente dizer que o trabalho não é para se gostar; é para se ir fazendo, porque é preciso ganhar dinheiro para pôr o pão na mesa. No entanto, quantos desses que o dizem gostam, de facto, do que fazem?
Não digo gostarem mesmo, como se pudessem não fazer mais nada na vida. Não o digo, porque que isso não é possível. O ser humano é um ser de muitos interesses e duvido que todos esses interesses se possam reunir num só local e numa só profissão.
E que dizer dos Hobbies?
Há muita gente que diz que um Hobby é isso mesmo e só isso; um hobby: uma coisa que se faz para ocupar o tempo. No entanto, um hobby é muito mais do que isso. Um hobby é uma coisa que se faz no tempo livre que se tem; mas jamais algo para matar o tempo. Para matar o tempo uma pessoa sai, vai beber café, assiste a um documentário na televisão, vai ao cinema, lê um livro, etc.; um hobby implica paixão pelo que se faz, dedicação e empenho. Bem sei que há pessoas que encaram o cinema, ou a leitura de livros, como hobby - não se sintam ofendidos; todavia, a não ser que isso sirva para mais alguma coisa do que o consumo próprio, como por exemplo fazer postagens em blogues sobre os livros que lê ou os filmes a que assiste, são apenas ocupações de tempo.
E foi olhando para esta realidade que - nos meus idos 16 anos - coloquei a seguinte hipótese: se aquilo que há num hobby é aquilo que nos anima, apaixona e nos faz correr a Extra mile - perdoem-me o estrangeirismo -, não seria bom se fizesse do meu trabalho; da minha profissão?
Cheguei a pôr esta questão a uma professora que tinha, de orientação profissional, e a resposta foi negativa. Na conceção daquela senhora, um hobby era apenas algo para os tempos livres e que jamais se poderia tornar numa profissão. E, quando a confrontei com os casos mais evidentes, os jogadores de futebol, ela simplesmente refutou dizendo «Ah! Mas isso é diferente...»... E não disse mais nada, a não ser esta pérola:
«Se transformares o teu hobby numa profissão, depois deixa de ser o teu hobby! Tu deixarás de gostar disso que, hoje, é algo que te dá alegria... E todos precisamos de ter essas coisas na vida.»
Pois é. Cá temos o binómio de sempre: o trabalho não é para dar alegria. E, por isso, jamais pensem em transformar o vosso hobby numa ocupação profissional, porque irão estragar o vosso futuro. Imaginem-se, ao fim-de-semana, depois de uma semana de trabalho, sem poderem divertir-se, porque ficaram sem o vosso hobby; porque transformaram-no em trabalho e com isso tornaram-no em algo vil e pernicioso...
Infelizmente esta perspectiva, com mais de 24 anos, não mudou. Ele permanece inscrita na sociedade, através da educação escolar e, mais grave, através da enculturação familiar. Os nossos jovens, hoje, continuam a ouvir a mesma lenga-lenga...
Felizmente o mundo, hoje, é maior. Já não é só aquilo os professores ditam, e os pais professam, que as crianças ouvem e veem. Uma criança, hoje, já aceita que os sonhos se possam realizar; e já acredita nisso até mais tarde, pois vê, todos os dias, pessoas a concretizarem os seus sonhos.
Sonhos?!
Sim; sonhos. Todos temos sonhos! Mas para a maioria de nós eles vão morrendo como as nossas células cinzentas; já não voltam. São poucos aqueles que, em idade adulta, ainda têm sonhos e, mais raros ainda, aquele que os perseguem. Há algum mal em sonhar?
É claro que não me refiro ao sonho no sentido fisiológico do termo. Refiro-me ao sonhar acordado, ao projeto que se ambiciona concretizar, aos nossos desejos e fantasias; mas atenção com isso: nem todos os desejos e fantasias são sonhos...
Não há qualquer problema em sonhar; o problema está na forma como se sonha e com o nível de exigência que coloca sobre si próprio, o sonhador. Os sonhos têm de ser construídos aos poucos, pedra sobre pedra, até que um dia tenham sustentabilidade para inspirarem outros a sonharem.
Foi isso que fizeram todos aqueles que, ao contrário de mim, não quiseram saber da opinião da orientadora profissional e que começaram a explorar o seu hobby como se de uma profissão se tratasse. Quantos deles, hoje, levam uma vida feliz onde o seu trabalho e seu hobby se concatenaram?
E isto está ao alcance de todos, desde que tenhamos identificado o nosso hobby e o nosso talento.
Falemos de talento. Aqueles que me seguem, conhecem a Série Talento: um conjunto de três textos, publicados no meu blog e no Canal PJ Vulter (em vídeo), onde eu falo do talento; da sua importância, dos erros e das perspectivas sobre ele. No entanto, resumindo, o que eu sei é que todos temos um, ou mais, talentos, muito embora possamos estar iludidos quanto eles; e este é um trabalho que todos, e cada um de nós, tem de fazer por si próprio e sozinho.
Aqueles que exploraram os seus hobbies sabiam bem quais eram os seus talentos e aplicaram-se; e foi por isso que tiveram sucesso. Outros houve que não o conseguiram; mas não o conseguiram porque o hobby não era de facto um hobby, porque não os fazia correr a tal extra mile nem os fazia saltar da cama. E porquê?
Talvez porque aquilo que perseguiam como hobby fosse apenas uma ocupação de tempo, algo de que gostavam muito, mas que não vinha de dentro do seu ser; ou, então, porque achavam que era algo que os outros tinham por interessante...
O problema - base - subjaz na confusão que se faz entre Hobbies e Passatempos; são coisas muito distintas: um Hobby é algo que nos apaixona e um Passatempo é algo que nos diverte.
Por isso, se quando coloquei aquela hipótese - mirabolante para aquela professora - a resposta me tivesse sido dada da forma correta, e não com base no conceito de Passatempo, algo que talvez somente tivesse sido possível se ela estivesse devidamente informada e conseguisse existir longe das malhas sociais que a todos nos prendem, hoje, eu seria um escritor profissional que teria como passatempos, entre outros, a Playstation; mas não, em vez disso, sou um escritor por Hobby e alimento o sonho de tornar esse Hobby a minha profissão
Assim sendo, fazendo uma «pescadinha de rabo na boca», talvez aqueles que, à boca cheia, dizem que o trabalho não é para se gostar, gostem do que têm por trabalho. Ou então, já desistiram de sonhar, engolidos por esta matrix que nos formata a todos como escravos de um sistema que não tem de ser assim; um sistema onde nascemos, estudamos coisas que não nos interessam, trabalhamos em profissões que pouco nos dizem e, quando morremos, percebemos que afinal não vivemos lá muito bem.
Ainda estamos todos a tempo de acordar.
Sintam-se à vontade para partilhar.
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