As Palavras...
- PJ Vulter
- 14 de mar. de 2018
- 2 min de leitura

Estava no outro dia a pensar em que como as palavras são belas.
Dizem que uma imagem vale mil palavras, mas nada pode retirar a magia do encadeamento das palavras, da sonância desse jogo, da melodia que escorre da leitura de uma frase, de um parágrafo, de uma poesia...
É, contudo, bem verdade que uma imagem vale mil palavras. Acho, ainda assim, que isto é uma manipulação da verdade que nos conduziu para esta Ditadura da Imagem em que vivemos. O valor da imagem é meramente operacional, porque permite-nos ver em segundos o que teríamos de ler em minutos. E, enquanto não se desconstruir isto, as palavras nunca serão devidamente reconhecidas.
Quando assisti ao filme «Código Da Vinci» - sim, já lá vão uns anos - dei-me conta de uma cena com grande potencial comparativo; aquele momento nas traseiras da casa do avô dela... E quis ver em quanto tempo - quantas páginas - Dan Brown construíra aquela cena de segundos: pois foram 20 páginas (na versão portuguesa).
No entanto, ler essa cena é simplesmente diferente de a ver no ecrã de um cinema, porque a leitura transmite-nos coisas, sentimentos, emoções, sensações; já, no cinema, estamos sempre condenados à visão dos produtores, realizadores e argumentistas. E, em todos estes anos de vida, confesso que - até agora - só vi um filme onde a visão do realizador, argumentista e produtor coincidiu com a minha: A trilogia do Senhor dos Anéis. Mas acho este um caso especial de sintonia mundial, porque quase toda a gente é da mesma opinião.
Todavia, vejo, e com alguma preocupação, a forma como as novas gerações preferem os vídeos, e as imagens, aos textos; como os tutoriais em vídeo, disto e daquilo, proliferam na internet. Preocupa-me enquanto escritor, pois sei que uso uma ferramenta que não é valorizada...
Entendo perfeitamente o uso da imagem; eu próprio a uso. Mas acho que se deveria ver a sua utilização apenas como um instrumento operacional; e não como o objectivo final. Afinal, cada filme, tem meses - às vezes, anos - de produção textual por detrás; e, quando se fala da adaptação de romances, ainda teremos de lhe somar o tempo que o escritor os levou a concluir. Como se pode deixar arder toda a magia das palavras em hora de meia de imagens, quando uma hora e meia de imagens pode ter levado mais de dez anos a ser construída por palavras?
Acho que é preciso sensibilizar as pessoas para isto, para importância das palavras, porque antes da imagem há ideias, transpostas para palavras, que só depois se transformam nas imagens que todos vemos. E isto só acontece porque quem leu as palavras ficou encantado por elas e quis mostrar ao resto do mundo aquilo que se sentiu... É esta a magia das palavras.
Por isso, não se fiquem pelas imagens, mesmo quando acham que elas vos deram tudo; leiam os textos, as palavras, os parágrafos, as poesias... Ouçam uma música, atentem na letra e na forma como ela foi construída para contar aquela história.
Não são as palavras belas?
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