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Gratidão

  • PJ Vulter
  • 6 de abr. de 2018
  • 2 min de leitura


Dei por mim a pensar, nestes dias, em quanto sou mal agradecido. Nunca me dera conta disso...


Não estou a falar da ideia de Gratidão que entretanto se popularizou; estar grato por estar vivo, por respirar, por ter saúde, por ter comida na mesa... Por todas estas coisas também estou grato, e é preciso agradecer, mas quando penso nesta versão da Gratidão lembro-me, também, de todos aqueles que não têm comida na mesa, que estão doentes, que mal conseguem respirar e que - por conseguinte - mal conseguem estar vivos. Que terão esses para agradecer ou porque estar gratos?


Mas esses poderão estar gratos de diversas maneiras; ainda assim: os que mal conseguem respirar e estar vivos, por tudo aquilo que de bom viveram; os que estão doentes, porque se poderão curar; os que não têm comida na mesa, porque têm saúde... No entanto - e esta é uma abordagem simplista; fará sentido isto?


Não faz qualquer sentido. E não faz, porque esta forma de Gratidão é um apelo ao conformismo e - muito sucintamente - é o equivalente a dizermos: não te queixes porque não tens isto, mas celebra porque ainda tens aquilo...


Não me interpretem erradamente. Quem defende esta ideia de Gratidão não o faz por mal; esta é, sem dúvida alguma, uma tentativa de manter o foco positivo. É, todavia, uma tentativa desesperada e uma interpretação incorrecta, e abusiva, das filosofias da Gratidão. Porque no fundo, ao que todas as filosofias da Gratidão apelam, não é àquele agradecimento incondicional, mas a um foco no presente e a um agradecimento entendido, um agradecimento sentido por se ter percebido o que nos trouxe de positivo algo que nos aconteceu; tendo esse algo sido mau ou bom. E é só isso. É saber e estar grato, em consciência plena, pela chuvada que nos encharcou até aos ossos; mas não porque sucedeu só isso e não outra coisa pior - como ter sido atropelado; é estar grato porque aprendemos a não sair de casa sem o guarda-chuva ou porque afinal de contas, apesar de tudo, não adoecemos.


E quando pensamos assim, e olhamos para trás, para todas as pessoas com quem compartilhámos a vida em dada altura - familiares e não só -, quando percebemos o quão gratos deveríamos ter estado, e estar, compreendemos o quão mal agradecidos somos por tudo aquilo que tivemos e temos.


E foi esta a elação que me trouxe a Páscoa, este ano, e foi por causa dela que me senti, por estes dias, muito mal agradecido; especialmente para com aqueles a quem já não posso agradecer...


Vale a pena pensar nisto...


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