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Filhos de Um Deus Menor

  • PJ Vulter
  • 11 de mai. de 2018
  • 3 min de leitura


É impressionante o quão desapoiada está a literatura portuguesa em Portugal.


Basta um estudo breve, para perceber o tipo de apoios que existem, por parte do estado: temos concursos/bolsas para apoiar escritores dos PALOP’s; temos concursos para a tradução de obras portuguesas para outras línguas; e temos até concursos para tradução de obras estrangeiras em Portugal. No entanto, nada há para apoios à criação de originais em português de nados em Portugal.


Eu, como escritor português, interrogo-me sobre as razões de fundo para isto?


Não as encontrando, sinto que a literatura portuguesa é o parente pobre das artes em Portugal. Existem apoios para a pintura, para o teatro, para o cinema, para a escultura e para a música; e, para todos eles, também, na criação de originais. Mas para a literatura não há nada de nada. Porque será?


É claro que temos depois um conjunto de vários concursos literários, de caracter público-privado – muitos deles por iniciativa dos municípios -, mas cujas especificidades, por vezes, são tantas que, para a maioria dos escritores, é mais fácil não ser elegível do que o contrário.


Quando olho para isto de uma perspetiva mais abrangente, tenho – necessariamente – de falar do mercado editorial; frequentemente mais apontado como um bloqueador do que como um facilitador. Mas o mercado editorial português só se distingue dos restantes pela sua pequena dimensão, métodos, hábitos e cultura nacional; de resto, o que se passa por cá é o que se passa no resto do mundo. Sendo assertivo, o objectivo de qualquer empresa – e as editoras são empresas – é lucrar; e uma das regras de ouro é fazer o menor investimento possível. Portanto, qualquer editora procura ganhar o máximo de dinheiro respeitando aquela regra. É claro que isto não é facilmente aceite pelos escritores; mas é assim que as coisas são. E a única crítica que posso tecer às editoras é à sua hipocrisia: pois se, por um lado, enchem a cabeça dos escritores com a necessidade que há de verem o seu livro como um produto; por outro, são os primeiros a esquecê-lo quando o têm nas mãos. No entanto, tudo isto se compreende das perspectivas mais básicas da gestão e da economia…


O que me deixa de facto admirado e preocupado é uma constatação simples; tão simples que me inquieta: em Portugal ninguém quer saber da nova literatura nacional.


Quando pesquisamos na internet por apoios a escritores – e não me refiro necessariamente a apoios financeiros -, não há nada. E os poucos que surgem implicam um investimento substancial; nomeadamente as denominadas Vanity Press.


Todavia, o cenário é complemente diferente em Espanha, no Brasil, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Existem plataformas de apoio onde o escritor pode publicar os seus textos online, com possibilidades de remuneração; plataformas de apoio, onde o escritor pode construir redes de seguidores e de fans. E há histórias de sucesso: há escritores que foram convidados pelas editoras para fazerem parte do seu catálogo; e outros que, mesmo sem o terem sido, conseguem viver bem das publicações que fazem.


«Se está online, está acessível a todos.», poderão dizer. Será mesmo assim?


Não. Existem idiossincrasias que são próprias dos países onde essas plataformas foram criadas e que influenciam o seu público-alvo; e logo os resultados possíveis.


Acham que um texto em português terá sucesso numa Amazon ou numa Kobo; ou mesmo numa Inkinpired?


Não. Portugal está na moda, mas o mesmo não se pode dizer da sua língua - pelo menos, para já. Os números de sucesso que vemos propagandeados pelos gigantes Amazon e Kobo são de livros escritos em inglês. E, mesmo quando pensamos na Inkinspired, com uma forte comunidade brasileira, as coisas não são diferentes; o nosso português é muito diferente do português do Brasil. Por isso, para quem escreve em português, essas plataformas não são uma verdadeira possibilidade; a não ser que se considere começar a escrever em inglês…


Por isso, todos nós, novos escritores portugueses, temos uma árdua batalha pela frente; temos de nos fazer ouvidos e notados quando nos ignoram persistentemente. E tudo o que poderemos fazer é isto: escrever...


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