Momentum
- PJ Vulter
- 18 de mai. de 2018
- 3 min de leitura

Vivemos hoje – mais do que nunca – uma ditadura do Tempo. Ninguém tem Tempo para nada. Levantamo-nos a correr, comemos a correr… Vivemos numa corrida que jamais poderemos vencer; pois a passagem do Tempo é inexorável.
Não sei se todos temos consciência disto; de que o Tempo simplesmente passa por nós. Normalmente, apenas o sentimos e constatamos com o envelhecimento. No entanto, ele passa por nós a cada nano-segundo e ignora-nos. Ignora-nos, sim; ignora-nos, porque o nosso envelhecimento é só uma consequência indirecta da passagem Tempo. O Tempo não «vive» por nós, ele é-nos exterior e nós nada somos para ele; ou seremos tanto como a montanha que ele vai desgastando com a ajuda dos elementos…
Então, se ele não «vive» por nós, porque viveremos nós por ele?
Porque insistimos em perseguir o Tempo?
Porque tentamos sempre fazer com que 24 horas sejam 48 horas?
Porque vivemos em função de um Futuro que – a bem da verdade – não sabemos se virá?
Porque permitimos que o Passado nos atormente, nos condicione a vida e nos amedronte o Futuro?
A verdade é que todos nós – Hoje - tomamos as decisões no Presente com base no que nos aconteceu no Passado e em função daquilo que pretendemos para o nosso Futuro…
No entanto, o Passado já não existe; e o Futuro ainda não existe. E, neste processo, relegamos, negamos, ignoramos, desprezamos e desprestigiamos a única coisa que de facto há, que é palpável, que é real e que existe: o momento Presente.
Já se deram conta da esquizofrenia deste nosso comportamento?
Já perceberam o quanto de louco tem esta nossa atitude?
É por causa dela que damos por nós a adiar decisões e a impedirmo-nos de fazer certas coisas, porque entendemos que as condições ainda não são as ideais… E que condições são essas?
São as criações imaginárias – e puramente fantasiosas, muitas vezes – com as quais desenhámos os planos para o nosso Futuro; são essas aquelas condições. Nós, devido àquilo que nos foi acontecendo na Vida, criamos – e sempre - um cenário ideal a existir no Futuro e, por consequência, todo o processo de decisão num dado momento Presente é condicionado por aquele cenário. Contudo, esse cenário é imaginário e fantasioso e não sabemos jamais se lá conseguiremos chegar nem, se o conseguirmos, se ele vai ser exatamente como nós quisemos que ele fosse. E, pelo caminho, não vivemos a Vida, não vivemos o Presente... E porquê?
Porque as coisas ainda não são como nós queremos; ainda não são ideais…
Li, algures, uma história sobre um escritor que se adapta a esta situação. Este escritor escreveu um romance durante 10 anos; ao fim daqueles 10 anos de trabalho, releu-o e entendeu que não estava bom. Não estava bom, porque ele mudara naqueles 10 anos e, se escrevesse aquele romance, de novo, escrevê-lo-ia de outra forma; e seria um romance bem melhor. E se o pensou, melhor o fez… Só que, 10 anos depois, ele viu-se na mesma situação… Voltou a tirar as mesmas conclusões e voltou a pensar em reescrever o livro; e, mais uma vez, deitou mãos ao trabalho. Contudo, o escritor já não ia para novo e a doença atalhou-lhe a vida; e o mundo nunca conheceu o que aquele escritor quis contar…
Todos nós somos como aquele escritor, em alguns aspectos da nossa vida; queremos que o momento ideal - perfeito - exista… Em última instância, furtamo-nos à vida se aquilo que idealizámos não ocorrer de forma perfeita; e, mesmo que tudo o resto seja como nós imaginámos, se concebemos aquele momento como um esplêndido dia de sol e estiver a chover, iremos voltar as costas a tudo, porque não foi aquilo - exatamente aquilo - que planeámos… No entanto, aquilo que se obteve, pode muito bem ser aquilo que de mais próximo se conseguirá ter; mas nós preferimos ignorá-lo a aproveitá-lo.
Toda a nossa vida é feita de momentos; de momentos presentes. É verdade – se assim o quiserem – que o que fazemos agora influenciará o nosso futuro; fará com o esse momento de Presente que aí virá possa ser de uma determinada maneira. Tal como é verdade que a nossa experiência do Passado nos poderá condicionar a vivência daquele momento Presente… E esta forma de pôr as coisas é tão inexorável como o próprio Tempo; é a forma como a nossa mente funciona e nada poderemos fazer para o impedir.
Mas o que poderemos fazer – sempre - é lembrarmo-nos que o Presente é tudo o que temos neste momento; o Passado já acabou e o Futuro ainda não há. E, se tivermos isto em mente, compreenderemos que devemos viver o Presente da melhor maneira que pudermos, porque, no final do nosso caminho, o que teremos será sempre, e somente, o conjunto desse momentos presentes que fomos vivendo ou não.
Comentários