Instinto Fatal
- PJ Vulter
- 13 de jul. de 2018
- 3 min de leitura

Espanta-me, o fatalismo com que o catolicismo aborda a vida. Não se trata de um fatalismo negativo ou positivo; mas simplesmente fatalismo. No entanto, e antes de mais, convém fazer um pequeno preâmbulo, a fim de evitar confusões…
O Catolicismo não é o acreditar em Deus ou em Jesus Cristo; ou nos santos. O Catolicismo é uma doutrina religiosa, com regras e obrigações, e o acreditar em Deus, e afins, é uma crença religiosa. No meu entender, a crença religiosa simples pode ser resumida na fé em algo de superior a nós; acho, contudo, que a fé, no entender da Igreja Católica Apostólica Romana, só pode ser entendida no escopo da prática religiosa…
Continuando no campo dos preâmbulos, a prática religiosa dos leigos – ou laicos – pode ser muita coisa; regra geral, rituais que os preencham no que eles entendam como espiritualidade. Já para a Igreja Católica Apostólica Romana, a prática religiosa implica o cumprimento de todos preceitos ritualísticos defendidos e impostos pela doutrina.
Posto isto, termino o preâmbulo dizendo que um católico é um cristão, mas que um cristão pode não ser um católico. E, assim, espero que fique claro que, quando me refiro ao catolicismo, não me refiro a mais nada se não àquela doutrina religiosa imposta pela Igreja Católica Apostólica Romana e em todos os seus preceitos…
Não se trata de um fatalismo negativo – como dizia -, porque há um certo optimismo na fé; nem de algo positivo, porque aquela fé implica – necessariamente – a crença no sofrimento: só o caminho do sofrimento nos poderá levar ao paraíso ou à felicidade. No entanto, porque são esses os caminhos do Senhor, não se entende o sofrimento como sofrimento, mas sim como o caminho da fé… É como se, seguindo o trilho da fé, as provações de ele façam parte e, por isso, jamais sejam vistas como sofrimento, mas como obstáculos que foram colocados no nosso caminho para a nossa aprimoração em direcção à perfeição. Mas há uma certa ambiguidade nesta conceptualização; uma certa engenharia…
A transmutação do sofrimento em provação e, por conseguinte, em parte do caminho para o paraíso, tira força ao conceito do que é o sofrimento. Dessa forma, a Igreja Católica Apostólica Romana terminou com um dos grandes entraves ao seguimento da doutrina, porque não há sofrimento na fé, o que há são provações e desafios que só existem, no nosso caminho, para nos fazer ascender. É como se – usando um exemplo economicista - pegássemos numa despesa pesada – e injustificada - detectada no balanço de uma empresa e a tornássemos num investimento necessário…
Alguém me disse, um dia, que nada do que tem de ser deveria provocar sofrimento; se provoca sofrimento é porque não tem de ser ou porque está a ser mal feito: o exemplo perfeito é a respiração; respirar, em circunstâncias normais, é um processo quase inconsciente. Por isso, a aceitação da existência do sofrimento como algo necessário não faz sentido; e muito menos o faz em crenças ou doutrinas religiosas. Mas o sofrimento existe e isso é inegável: o sofrimento faz parte da vida e é nossa obrigação evitá-lo.
Contudo, a Igreja Católica Apostólica Romana diz a quem sofre que tem de sofrer, porque isso é uma mera provação para a sua evolução. O sofrimento é - na perspectiva desta doutrina - essencial para o crescimento da fé e do espírito, mas isso é – na minha perspectiva - o mesmo que empurrarem as pessoas para o sofrimento; para a busca do sofrimento... No mínimo – segundo os meus padrões - isto é prática de sarcasmo e crueldade.
Mas apesar de tudo isto, foi esta a forma, utópica e distópica, que a Igreja Católica Apostólica Romana encontrou para lidar com algo que não entende nem se enquadra na – apregoada – bondade omnipotente de Deus. Mas mais do que isso - creio, eu -, foi a única solução que conceberam para manter os fiéis e justificarem a sua própria existência. E essa a única razão pela qual, tudo isto, ainda hoje se mantém...
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