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Conversas da Treta



Desde 2008, altura em que assumi que queria ser um escritor e, também, o ano da publicação do meu primeiro livro, que tenho lido muita coisa sobre a escrita. E tirei uma conclusão; não diria brilhante… E é até provável que muitos não concordem comigo; mas é precisamente por isso que a tiro.


Já não é a primeira vez que abordo esta temática no meu blogue. Aqui há uns meses, até publiquei um texto - «So you want to be a Writer» -, onde inclusive indiquei três títulos que considerava fundamentais para todos os escritores wannabe – mantendo a tendência anglo-saxónica. No entanto, apesar desses títulos indiciarem ser pretensos manuais para a escrita de romances, na verdade, os seus autores, são os primeiros a dizer que tal coisa não existe: não há uma chave mágica nem uma técnica de sucesso que ensine a escrever romances. E é por isso que eu digo que todos aqueles que se afirmam detentores de fórmulas mágicas, que dizem que para se ter sucesso é preciso isto, aquilo, fazer assim e assado são vendedores de banha da cobra que alimentam todos os mitos urbanos devoradores de escritores iniciantes.


Todos nós gostávamos de ter um manual que nos relatasse todos os passos sobre como fazer qualquer coisa; e com a escrita não é diferente. Em teoria, a existência de tal manual, libertaria todo o escritor, porque deixá-lo-ia apenas com a parte criativa – a mais divertida, diga-se –, pois tudo resto era mecanizado por um conjunto de passos. E de repente, todos – pelo menos aqueles com um mínimo de imaginação - poderiam ser escritores. Mas nem todos podem ser escritores e enquanto não se tomar consciência disto, de que nem todos podem ser escritores - escritores, cantores, músicos ou pintores -, livros que prometem sucesso imediato na escrita, que prometem formar escritores, vão continuar a surgir, porque há mercado para eles; há pessoas que acham que aprendendo as técnicas tornar-se-ão escritoras.


Pergunto: bastará saber as regras do futebol para se tornar um futebolista de sucesso?


Todos dirão que não. Então, porque acham que com as artes é diferente?


Não é diferente; é precisamente a mesma coisa.


É verdade que os cursos de escrita criativa, e alguns dos livros que há por aí, podem ensinar técnicas valiosas que ensinarão todos a escrever melhor. Mas é também verdade que nenhuma dessas pessoas se tornará automaticamente num escritor. Um escritor é um Missionário, conforme disse aqui, no meu blogue – há umas semanas -, e as técnicas tornarão a vida do missionário mais fácil; mas é só isso que farão…


Quem leu o artigo acima mencionado percebeu que ser escritor é essencialmente trabalho, imaginação e espírito de missão. Escrever não é para qualquer um e qualquer um que encete este caminho – e digo encete, porque muitos há que apenas o encetam, apesar de falarem dele como se fossem grandes peritos – reconhecerá que nada do que lhe disseram é exatamente como lhe disseram. E isto acontece, porque um escritor é, antes de tudo, uma pessoa; e isto, para quem me entende, é tudo. Todos somos diferentes uns dos outros, temos a nossa história pessoal – e de família –, os nossos medos e receios, os nossos traumas, os nossos sonhos e pesadelos...


Por isso, com tamanha diversidade, como é que se pode tentar resumir num livro toda a problemática associada a essa entidade – O Escritor?


Fazê-lo é puro dogmatismo e arrogância; é a arrogância daqueles que dizem que eles – e só eles - sabem como ser escritores.


E vem isto a propósito de uma entrevista que li, de um escritor brasileiro, em que o mesmo ousa distinguir o escritor profissional do escritor amador com base na forma como o escritor escreve e organiza a sua escrita…


A pérola, para mim, é quando ele diz que um escritor profissional sabe sempre para onde vai a sua história.


Será verdade?


Conheço autores que dizem que sabem sempre como a sua história vai acabar; mas outros há que não o sabem. Há também escritores que têm tudo delineado antes de começarem a escrever e há outros que não. E porquê?


Não sei. Mas tenho uma ideia. Para alguns – acredito - a sua formação académica poderá contribuir para esse facilitismo – essencialmente, jornalistas, advogados e engenheiros -, mas acho que para a maioria dos escritores tudo depende do seu processo mental…


Eu, por exemplo, sou um escritor intuitivo. O que tenho é um tema para abordar, uma investigação para fazer… Nesse processo, as personagens vão-se criando, vão-se apresentando e, a dada altura, elas gritam pelo direito à existência e eu começo a escrever; para que elas vivam livres - literalmente, livres - na folha de papel.


Conheço muito bem os riscos de escrever assim; sei que a qualquer momento as personagens colocam-me desafios – às vezes, brutais - que me obrigam a escrever uma história diferente daquilo que previa. Mas isto – para mim - faz parte do prazer de escrever; nem concebo escrever de outra maneira. E é assim, não só porque isto é divertido, mas também porque esta é uma forma de me desafiar permanentemente e, desse modo, propiciar a evolução da minha escrita.


Termino dizendo que – na minha humilde opinião - a única diferença entre um escritor amador e um escritor profissional não está na forma como escreve – ou organiza a escrita -, mas sim num facto muito mais simples e materialista: o primeiro trabalha noutras coisas para ganhar a vida; e o segundo só escreve e ganha dinheiro com isso.


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