Comédia de Enganos
- PJ Vulter
- 23 de nov. de 2018
- 1 min de leitura

Recordo-me – e todos vocês também se lembrarão, com certeza – daquelas aulas de português em que os professores nos desafiavam a tentar adivinhar o que iria na cabeça de um escritor quando escrevera uma determinada frase… Um exercício meramente especulativo e sem valor acrescentado algum, porque somente o escritor sabe isso; mais ninguém.
E Hoje, porque sou escritor, às vezes, ponho-me a pensar sobre a eventualidade de ter alguém, um dia, a debruçar-se sobre os meus textos e a especular sobre as razões pelas quais eu «matei» um personagem.
Ousará achar, esse alguém, que aquela minha decisão - entre uma miríade de possibilidades - teria a sua explicação num determinado ódio a qualquer figura de autoridade - simbolizada pelo dito personagem; por exemplo.
E, passado algum tempo neste devaneio, dou por mim a rir que nem um perdido, pensando na tinta que aquela minha decisão fará correr e nas horas que se perderão numa discussão sobre os meus eventuais ódios à autoridade; talvez até concluindo que eu sou um anarquista libertino. Coisa que não sou; nem de perto...
Por isso, gostaria de deixar aqui o meu testemunho; guardem-no, por favor, pois não quero que desperdicem o vosso tempo:
Quando criei o personagem, tinha-o por muito importante... Mas agora já não me faz falta; e até me incomoda. Por isso «matei-o»! «Matei-o», porque me enganei no momento em que resolvi criá-lo e é-me muito mais fácil «matá-lo» do que voltar a trás e reescrever tudo. E foi isso; só isso; nada mais...
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