top of page

IT'S THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT


It's the End of the World as We Know It, PJ Vulter

Explodiu-me na frente, há coisa de semanas, essa história do fim da Internet. E, como todas coisas que são importantes – e que mexem com as nossas rotinas diárias – já deu origem a posturas apaixonadas de revolta e desespero…


Confesso que ainda não me tinha ainda dado conta desta situação e, segundo percebi, os problemas começam num tal de artigo 11 e acabam num tal de artigo 13 de uma Directiva da União Europeia. De acordo com o meu entendimento, e de forma muito simples – tenho disso consciência –, o que se pretende é proteger os direitos de autor. E – como é evidente – eu, como escritor, estou 100% a favor. Como devem calcular, não quero que os meus textos andem por aí a enriquecer os outros enquanto eu não vejo um chavo…


É preciso perceber que hoje qualquer um pode fazer vídeos utilizando materiais (textos, imagens e músicas) de outros e ganhar dinheiro com isso; enquanto quem criou esses materiais nada ganha. Já pararam para pensar quanto tempo investiu o escritor num determinado texto e quantos dias levou um designer e terminar aquela imagem de que tanto gostaram e usaram; e o músico?!


É que, em muitos casos, esses escritores, designers e músicos não conseguem vender os seus trabalhos; não por falta de qualidade, mas porque ainda ninguém neles reparou. E, de repente, um tipo com o cabelo em pé – e às cores -, mal saído dos cueiros, com um palminho de cara e algum swag, pega nisso e lucra brutalmente; só porque tem milhares de seguidores. Não acham revoltante?


Eu acho. Mas não estou contra o lucro do Youtuber, estou sim contra o facto dos autores dos materiais por ele usados não verem nem um tusto. Isso está errado!


Mas apesar o ruído enorme que isto está a levantar, eu penso que o que estes artigos vêm fazer é moralizar a Internet.


Desde que a Internet é a Internet que se criou a ideia de que tudo o que lá está é propriedade pública; se está na net é gratuito. E – na minha humilde opinião – é isto que está a apimentar a discussão; a ideia de que se acabaram as borlas. Mas descansem; isso não vai acabar! Quem vai ter de pagar alguma coisa são as plataformas; é isso que nos dizem os entendidos nessa Directiva da UE.


De acordo com os entendidos nessa Directiva, o que se pretende não é onerar os utilizadores, ou os criadores de conteúdo, mas sim as plataformas que com eles lucram.


Isto é tudo muito bonito e – a não ser que existam mecanismos que o impeçam – somente gente lírica que vive encerrada nos seus escritórios, que se alimenta à base das teorias enlatadas que lhes formaram as ideias e bebem pouco mais do que as políticas refrigerantes que - pensam, eles - lhes refrescam as perspectivas, é que pode acreditar que a fatura será suportada – verdadeiramente – pelas plataformas.


Cá em Portugal não temos falta de exemplos… Vejam o caso da taxação dos açúcares. Dizia o governo que o objectivo era baixar as quantidades abusivas de açúcares na alimentação pela penalização dos produtores desses alimentos. Mas na prática – e ainda admitindo que alguns produtores possam ter reduzidos os açúcares – quem paga esse imposto é o consumidor, porque tudo isto redundou no aumento do preço dos artigos. Portanto, o estado taxa o produtor, mas o produtor faz subir o preço do artigo para se compensar…


E com esta Diretiva não será diferente; indo com ela para a frente, os criadores de conteúdo terão de pagar alguma coisa às plataformas e, por conseguinte, os utilizadores também terão de o fazer aos criadores. Tudo se transformará num modelo – estou em crer – não muito diferente do pay-per-view.


Por isso, apesar de não querer atiçar o fogo, a Internet, como é hoje, corre mesmo o risco de acabar, porque o acesso massivo a conteúdos – como acontece agora – está severamente ameaçado; mas não é pela Diretiva propriamente dita: está ameaçado pela lógica dos mercados…


Mas afinal; estou a favor ou não?


Eu vou continuar a fazer as minhas publicações; sem problemas. E isto porque os textos são meus, as imagens são minhas – ou, então, royaltie free – e as músicas são do acervo público ou de stock gratuito. Quanto muito poderei ter algum palerma a dizer que eu estou a publicar textos de PJ Vulter – porque quando partilho não uso o pseudónimo; mas isso resolve-se. Por isso, se são como eu, nada irá mudar para vocês…


Dito isto, acho que sou a favor; acho que isto pode moralizar a Internet – como já disse –, responsabilizar-nos a todos por um melhor uso desta grande ferramenta e restringir o acesso a quem não interessa. Hoje há muito ruído no éter, há muita gente que não produz nada a não ser ruído e que tem tantos seguidores - o que me espanta, mas não é este o momento para discutir isso - que vive melhor do que muita gente que produz conteúdo de qualidade. Pode ser que este seja um passo determinante para um salto social evolutivo e nos faça pensar no que é que andamos a fazer com os nossos tempos livres.


Mas não se iludam, nem se deixem levar pelas conversas dos políticos - não são de fiar; eles ficam-se sempre pela parte que lhes interessa e não exploram as consequências que os seus actos provocam, pois não se sentem responsáveis por eles. Eles irão sempre dizer que tudo o que quiseram foi onerar as plataformas e que o que as plataformas fizeram a partir daí é da responsabilidade das plataformas - e, em parte, terão razão; no entanto, também a classe política precisava de um artigo 11 e 13, mas no sentido de serem devidamente responsabilizados pelo que as suas ideias e medidas provocam. Esta Directiva vai mudar a Internet - ninguém tenha dúvidas -, como e em que aspectos exatamente, ninguém o sabe. Mas estou em crer que os mesmo líricos que a propuseram, na formula que está, já terão umas ideias; contudo, vão mantê-las para eles, não vão umas opiniões mais informadas decidir que assim não se possa avançar...


Posts Recentes
Arquivo
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page